Pedras - De Juliano De Ros - 2018




Pedras (2018)
De: Juliano De Ros

Para Lucí Barbijam

São como seixos
Esses meus versos
Pedras no caminho
Que recolho e guardo
Vez por outra, paro
Aprecio o colorido e a forma
Se alguns brilham
Outros são céticos

Pedras
Pedras, é o o que são
Ao raciocínio metódico
Pedras, é o que são

Sim
Sim, o raciocínio está certo
Apenas pedras, eles são

Na minha infância,
Meu pai
Montara uma estante de madeira
No porão da nossa casa
Enorme

Onde acomodei as pedras
Que juntei nos caminhos
E as que me foram dadas com amor
Acho que ele, sem falar
Também amava minhas pedras...

Tinha uma
Que parecia chocolate lambido
Revelei-a para minha prima
Já em minha mão
Ofereci...
Que reação!
Uma pedra entre os lábios
Gatuno, peralta, rufião!

Minhas pedras tem alma...

Tinha outra
Que encontrei no chão
Da casa da minha tia
Polida, redonda, rosácea
Recolhi
Bom moço, não!
Para o meu acervo
Mais um pecado
Recolher pedras do chão

Havia, também
O meu tesouro
O achado de Piratuba
Brilhava
Ela brilhava muito
Aos meus dez anos
Com dezenas de pontas pequeninas

Furunguei os livros
A enciclopédia colorida
E o diagnóstico
É calcita azul!
Não havia dúvida
Minha preciosa...
Calcita azul...

Quando meu pai vendeu a casa
Recolhi minhas pedras
Em caixas de papelão
E encerradas no escuro
Foram se perdendo, uma a uma

Fui crescendo
E, racional, desfiz meu tesouro
Refiz meus caminhos e meus sonhos


O raciocínio metódico tem a razão
Ele tem a razão
Mas, não sei porque
Novamente passei a juntar
Pedras que encontro

É o meu coração...

E ele lembra mansinho
Que as pedras dos caminhos
Antes de obstáculos
Elas são a felicidade
De quem se detém para vê-las

Faz tempo, apreendi
Que a razão
Não dá sentido à vida
E o método
Não dá sentido aos versos

Esses meus versos
Pedras são
São as pedras dos caminhos
Que recolho e guardo.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

As verdades absolutas - Crônica de Juliano De Ros - 2022

A Crônica que Não Foi Escrita - O Julgamento de Lula - Autor: Juliano De Ros

Crônicas do outro dia - A fila do caixa do mercado