De Anita em Anita (De Luísa Vitória Pontalti De Ros - 2018)
De Anita em Anita
Luísa Vitória Pontalti De Ros - 2018
“Prepara,
que agora é hora do Show das Poderosas...” Esse fragmento de uma
música popular não precisa ser continuado, pois todos os
brasileiros já conhecem a letra. Além de ser cativante, a canção,
indiretamente, traz à tona a questão de uma minoria excluída na
sociedade, exaltando que “agora é a hora” dos que não têm voz
serem ouvidos. Nesse âmbito, pode-se perceber que a cultura
brasileira tem como funções principais questionar uma estrutura
tradicional exclusivista e cativar as pessoas, de modo que cada vez
mais indivíduos integrem a sociedade de maneira uniforme.
Em
1917, Anita Malfatti realizou uma exposição de quadros seus, os
quais contrariavam a estética realista vigente na época,
caracterizando-a como uma arte vanguardista. Entre as obras estavam
“O homem amarelo”, “A boba”, “A estudante russa”,
carregadas de sentimento, expressão e de figuras um pouco disformes.
Anita, no entanto, recebeu duras críticas de um dos mais
tradicionais escritores, Monteiro Lobato, o qual alegou que sua nova
estética era uma “agressão à arte”. A pintora não se abalou
com a visão tradicionalmente aceita pelo século XIX, dando
continuidade ao seu movimento, consagrando-se como pioneira no
movimento modernista brasileiro, um dos mais relevantes para a
história da cultura do país. Nesse contexto, pode-se notar que, com
o confronto ao que é tradicional, a cultura do Brasil fortaleceu-se
e tornou-se realmente brasileira, como os próprios ideais do
movimento modernista defendiam.
Cem
anos após essa exposição emblemática, outra Anita surgiu. Cantora
de Funk, nascida na favela, Anitta é considerada um dos ícones da
cultura musical da atualidade, representando também, um movimento
vanguardista: o Funk. Questionando ideias pré-moldadas por meio de
suas músicas cativantes, a funkeira demarca uma nova estética
musical e a atualiza para o Brasil do século XXI, mesmo que muitos
“Monteiros Lobatos” ainda tentem apagá-la da cultura brasileira,
afirmando que o Funk “não é cultura” e é “uma agressão à
arte. Nesse sentido, pode-se pensar que a arte de vanguarda,
questionadora e polêmica, faz parte da cultura brasileira, cuja
função é criticar os modelos pré-formados para que a arte se
torne cada vez mais inclusiva.
A
cultura brasileira vive em torno da crítica ao tradicional, direta
ou indireta, e das consequências proporcionadas por ela, visto que,
ao longo da história, essa cultura ultrapassou os valores
pré-determinados por uma sociedade e recriou-se, dando voz àqueles
que querem ser ouvidos mas estão escondidos atrás de uma cultura
tradicionalmente aceita. Portanto, de Anita em Anita, as
manifestações culturais brasileiras mostram-se cada vez mais
questionadoras e diversas, tornando essas características como
função.
O texto de Anita em Anita nos leva a refletir sobre o que é arte e sobre a nossa concepção sobre o que é arte. Enfim, nos leva a refletir sobre os nossos próprios preconceitos.
ResponderExcluirAquilo que hoje representa o "status quo" estético, pode ser o anacrônico de amanhã.
A arte pode chocar, sim, mas essa também não é uma de suas funções? Uma poesia, uma pintura, uma canção podem ser como um dedo empurrando seu nariz, clamando: -Acorde! Esse é o mundo que você ajudou a construir!
Juliano De Ros
Parabéns pelo texto, muito bom! Filha de peixe, peixinho é ! Beijos .🌷🌷🌷
ResponderExcluirMuito obrigada!!!
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